Moda é fútil?

by - agosto 06, 2018


O que é moda para você?

Fiz uma enquete experimental no meu Instagram, perguntando se as pessoas consideravam moda algo fútil. Embora a maioria tenha votado que não, uma quantidade considerável de pessoas votou que sim. E este post é para vocês. J




Para ser bem sincera, eu acho compreensível quando alguém liga moda a futilidade num primeiro momento. Porém, é só analisar a questão com um pouco mais de profundidade que a coisa muda de figura. É isso que vamos fazer agora.

Um pouco de história

Nas sociedades muito anteriores a essa que conhecemos hoje, já existia moda, só que de uma maneira bem diferente. Por muitos séculos, a vestimenta era apenas útil, isto é, servia como cobertura para o corpo, e era passada de geração para geração, marcando o lugar social de quem usava - a chamada era de costume.

No Antigo Egito, a vestimenta estava relacionada à religião e à preparação para a morte; na Grécia, as roupas eram simples e mostravam o corpo, e eram a expressão do indivíduo; só no século IV o corpo passa a ser realmente coberto, após a separação do Oriente e do Ocidente.

Vestido com inspiração na vestimenta grega.


Na Idade Média, usam-se túnicas porque não há distinção de gênero; é a época da valorização da alma, não dos corpos. No final dessa época é que os gêneros começam a se diferenciar, e a roupa masculina encurta devido à maior movimentação.

No século XVI, no Renascimento, acontece de fato o nascimento da moda: as roupas deixam de ser apenas itens materiais e passam a ter um significado simbólico, parte da construção da aparência. Essa mudança está relacionada ao desejo de mudança, à insatisfação com o passado e ao enriquecimento da burguesia.

O Barroco vem com rigidez e dramaticidade, peso e exagero, devido aos acontecimentos religiosos da Inquisição e guerras. A desconstrução da silhueta é uma marca desse período.

Barroco e inspiração na atualidade.


Na França, no século XVIII, a monarquia revolucionou o entendimento de moda e alterou a posição de seu país na escala social. Estabeleceu que a monarquia francesa usaria roupas absolutamente exageradas, maquiagem forte e peruca, de maneira bem caricata - o ideal da beleza artificial.

Com isso, ele conseguiu demonstrar que esse exagero era sinônimo de poder, e os demais países quiseram copiar o novo estilo. A moda instaurada mudou totalmente a política e a sociedade da época.

Exemplo de traje do Rococó.


É claro que, após esse período de excessos, o povo se deu conta da realidade e passou a criticar a monarquia. O excesso começou a ser considerado ridículo e a simplicidade, a ser valorizada.

E hoje?

Dando um salto para a nossa época, podemos ver as coisas de maneira bem diferente. A moda hoje é útil porque nos veste, nos aquece, nos cobre. Mas sua "função" vai muito além disso, e também supera a questão social e política.

Vivemos a era da individualidade. Hoje em dia, você pode ser o que quiser, pode fazer o que quiser, e a moda é sua grande aliada. O modo como você se veste mostra ao mundo quem você é. Sua atitude, sua imagem para a sociedade, são passadas para as pessoas por meio das roupas que você usa. Quer você queira, quer não.

E o que você usa... Foi você mesmo que escolheu? Será?




Quem não se lembra da cena icônica do filme O diabo veste Prada, em que a editora da revista Runway, Miranda Priestly, humilha sua funcionária, Andy, na frente de todos? Andy diz que não vê diferença entre dois cintos muito parecidos, e sua chefe faz questão de fazê-la passar vergonha:

"Ah, certo, entendo. Você acha que nada aqui tem a ver com você. Você vai até o seu armário e escolhe, digamos, este suéter horroroso, porque está tentando dizer ao mundo que se leva muito a sério para se importar com o que você vai vestir, mas o que você não sabe é que a cor desse suéter não é um simples azul, não é turquesa, não é lápis lazuli, ele é azul celeste. E você ignora o fato de que, em 2002, Oscar de la Renta fez uma coleção de vestidos azuis celestes, e acho que foi Yves Saint-Laurent que fez jaquetas militares azuis celeste. (..) O celeste apareceu depois em coleções de 80 outros estilistas e, então, passou para as lojas de departamento e, depois, foi parar em lojas populares, onde você sem dúvida comprou este, numa liquidação. No entanto, este azul representa milhões de dólares em incontáveis trabalhos, e é meio cômico como você pensa que fez uma escolha que a exime da indústria da moda, quando, na verdade, está usando um suéter escolhido para você pelas pessoas desta sala em meio a um monte de coisas." (tradução livre)

É isso. A moda está em todo lugar, e as pessoas que trabalham com moda fazem escolhas por nós, ainda que não enxerguemos isso. Tudo que está à venda está lá por um motivo e porque alguém decidiu que seria assim. 

Ir a uma loja qualquer e escolher uma roupa qualquer apenas para cobrir o corpo pode parecer uma renúncia à moda. Mas você está inserido nela assim mesmo. Acredite.

E, independentemente disso, fazer essa escolha também é uma possibilidade que o nosso mundo individualista permite. Poder usar algo que só você gosta ou escolher não seguir a tendência do momento são características da moda contemporânea. Se formos voltar no tempo, essa escolha não seria nem cogitada. 

Concluindo...

E é por tudo isso que moda não é fútil. A moda é uma representação de cada sociedade, dentro de suas particularidades e características, assim como a arte, a música, a literatura etc. 

É uma visão muito equivocada e restritiva pensar na moda apenas como vestidinhos bonitinhos produzidos para as pessoas consumirem ou em desfiles mirabolantes que ninguém compreende. A moda engloba todos nós, quem curte seguir as tendências, quem consome revistas da área, e também quem odeia falar sobre o assunto.

Não dá pra fugir.




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